Por que quero ser Professor?
   
Esta é uma questão que me proponho a tentar responder para que eu possa não ter dúvida acerca da profissão que eu e mais uns dois milhões de colegas desempenhamos todos os dias.

Qual é o valor do Professor hoje? Por que desejar uma profissão mal remunerada e com poucas perspectivas de mudança, já que muitos colegas se aposentaram aguardando uma valorização que não chegou para eles, e será que vai chegar para mim, ou para você?

Minha Mãe era professora primária, cresci vendo ela carregando livros, contando histórias, fazendo desenhos, ela se animava a cada época festiva, porque era um motivo para criar uma dança, uma reunião, fazer uma festa! E que festa!!!

No tempo da minha Mãe os pais participavam, teve uma festa junina que deu briga porque muitas meninas queriam ser "a noiva", daí minha Mãe não teve dúvida e disse: Todo mundo pode ser! E a quadrilha teve um festival de noivas, muitas noivas e ficou lindo! Hoje se a gente resolver fazer uma quadrilha, vai ser difícil fazer as pessoas se mobilizarem para ajudar a fazer algo além da sua rotina.

Os alunos acostumaram a receber os cadernos, a mochila, os livros e criaram uma cultura do "receber", se o professor pede o trabalho em uma folha de almaço, eles querem descer para pegar na secretaria, se precisar fazer um cartaz, eles descem para pegar na secretaria, se não tiver lá eles logo dizem: - Ah! A gente paga tanto imposto!!! Não vou gastar com folha de almaço! Vai assim mesmo... E alguém se atreve a pedir que venham com traje típico para a festa junina? Podem até pedir, mas preparem-se para tudo! Normalmente eles chegam na festa com o celular para conectar na caixa de som da escola, já trazem o fio que encaixa no celular e na caixa, não perguntam a ninguém se isso pode ou não, e em seguida dá-lhe o "Funk"! Daí não há disposição para mais nada, a não ser ir até o "chão"... O problema não é o "funk", o incômodo está em perceber que, para eles, o "funk" é um estado em si mesmo.

Tem gente que critica os professores por que eles estão ultrapassados, dizem que esta geração é da era da tecnologia, e sendo assim, é claro que eles não vão se interessar por giz e lousa! Eles curtem a internet! Eles curtem o computador! Acho estranho ver uma geração que nasceu na era da informática, e, apesar disso não tem a menor noção da diferença entre um arquivo.doc e um arquivo xls! Geração do computador? Desculpem os crentes nesta teoria, mas o que tenho visto por aí são usuários de baixo nível, que no máximo sabem usar o facebook e o ultrapassado "MSN" que já virou Skype, nem e-mail se dispõem a usar, porque a conversa rola no facebook, então, acreditam que nem precisam conversar em outro lugar porque o facebook resolve a questão da comunicação, no computador e no celular, e isto para eles é suficiente! Em uma pesquisa na internet, eles não sabem se o site pesquisado é confiável ou não, pegam vírus com facilidade, e a imensa maioria não tem noção da diferença entre os arquivos, então, é um absurdo chamar uma geração de ser "tecnológica", quando na verdade o que percebemos é um uso rasteiro destes equipamentos! Eles são, sem sombra de dúvida grandes consumidores de tecnologia, tem imensa disposição em usar e comprar com o objetivo de se divertir.

Uma geração criada sem a cartilha do "Caminho Suave". Os pesquisadores, os teóricos na época criticaram as cartilhas por elas serem simplistas, beirando a burrice, "O bebê baba", quiseram ousar, devemos dar oportunidade às crianças de desenvolverem uma postura construtivista, olharam com desdém para os tradicionalistas do "Be a bá", e hoje o resultado é visível, e o caminho não está suave, vemos a grande maioria destes jovens com uma imensa dificuldade de interpretação de texto, de abstração, com comportamento apático, insensível e individualista. Desculpem a descrição do panorama catastrófico, mas não fui eu que defini as bases da educação, quando eu saí do Magistério em 1993, o construtivismo era apenas uma teoria nova que os professores vislumbraram em meu último ano, e com o tempo, foi ganhando força nas escolas e entre os educadores, sendo adotado como uma forma moderna de ensinar, um novo momento em que o aluno deixa de ser um sujeito passivo que recebe o conhecimento, e passa a interagir, a partir desta perspectiva ele próprio constrói o seu conhecimento a partir do seu ritmo e da sua vivência.

É claro que a educação hoje vê o aluno como um construtor, como um ser humano único, e isto é bom! A educação melhorou muito nesta questão, e vejo que esta discussão da construção foi positiva, mas o que dizer do resultado final? Como ser uma árvore frondosa sem ter semente? Como pode uma criança construir seu conhecimento sem ter bases para isso? Meu filho não aprendeu a ler e escrever na escola, logo que percebi a sua dificuldade em construir sem ferramentas comprei para ele "a burrice do Bebê baba" e ele aprendeu! Hoje ele lê o livro da sua escola sem a minha ajuda!

Percebo erros graves assinados por teóricos de renome que são responsáveis por uma geração desconstruída, que aprendeu a "exigir", aprendeu a ter uma postura "crítica", aprendeu a "querer", a colocar o dedo no nariz de quem quer que seja para dizer o que pensa, seja lá o que for, seja quem for! Eles são tão acostumados a dizer, a criar suas próprias ideias, e não se acanham em enfrentar o irmão ou a polícia, não se sentem humilhados com facilidade, dão "de ombros" para os conselhos e não tem noção do que significa "ter reputação", talvez esta palavra lembre algo ruim...

Estes jovens não aprenderam que o pensamento tem um tempo, que é preciso ir construindo passo a passo, e existe alguém formado e preparado para orientá-lo, e este alguém é o professor. Se o jovem foi criado para fazer e pensar por conta própria, porque ele deve seguir a orientação de alguém? Como alguém que foi criado para ser o responsável pelo seu conhecimento, pode ouvir alguém além dele mesmo?

Quando o resultado é bom é fácil encontrar o Pai e a Mãe da criança, mas quando o resultado é ruim quem quer assumir a culpa? Quem ainda acredita que estamos no caminho certo? Não sendo este o caminho alguém arrisca a dizer o que pode ser feito para melhorar?

Nestas condições panorâmicas lá vão os professores dia a dia para a sala de aula, ensinar quem? Quem quer aprender? Se existe uma crença de que a informação está em todo o lugar, e o aluno tem acesso gratuito a qualquer coisa em qualquer momento, e ele criou a ilusão de que já sabe o suficiente, e se ele é "por si", porque deveria ouvir alguém dizer para ele alguma coisa que pode ser lida e ouvida mais tarde?

O jovem é bem sincero, e ele não esconde que o objetivo de ir para escola não é o de estudar, ele quer encontrar os amigos, bater papo, ouvir música e combinar algum programa para mais tarde ou simplesmente namorar! Se você perguntar se ele quer estudar vai ouvir um grande e sonoro "não", "nem pensar", com raríssimas exceções que escapam ao pensamento da maioria. Se você perguntar se temos alunos interessados, a resposta é sim, e eles são muitos e, é claro, eles são a inspiração da escola.

Dizem que alguns professores conseguem ser atrativos, por que são novos, falam a mesma língua e, portanto, acabam sendo mais atraentes, no começo pode até ser, mas com o tempo não há como fugir do conteúdo específico de cada disciplina e o aluno percebe que, apesar de ter mais afinidade com estes professores, eles no fundo, no fundo são professores também, e vão cobrar atividades, vão querer ensinar inclusive algumas coisas chatas, e no fim das contas, também eles perdem "a graça", e os professores legais podem se juntar aos velhos professores chatos, e no fim são todos uns chatos mesmo e merecem viver todos juntos para sempre na sala dos professores, que é o lugar para onde esta turma leva as suas queixas, os seus desabafos, as suas frustrações.

No placar geral, ponto para os alunos! Que além de serem a maioria, tem massacrado a classe dos professores com seu desprezo, suas frases motivacionais do tipo: - Você veio hoje? O outro professor veio? Vai passar lição? Tem que escrever? Isso aí é muito chato! Tem que responder? Ufa! Ainda bem que acabou! Graças a Deus!

Ah! Na época da minha Mãe a família vivia na escola para saber, ver e participar da vida escolar do seu filho, hoje a GRANDE MAIORIA dos pais inscreve seus filhos no começo do ano e simplesmente desaparece! Estamos sós caros colegas! Até quando?

Se pararmos para pensar encontraremos os problemas,  já a cura para estas questões vai depender da vontade não de uma classe de milhões, mas de toda a sociedade.

Por que quero ser professor?

Não quero ser, já sou, já somos e não há como fugir disso, não é?



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Rio Claro - SP   

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